14 junho 2006

Título e capões

Nada melhor do que tirar uma nota razoável na tarefa que não esperávamos retorno merecido! Cinco estrelas só até a 4a série... depois é cuidar com o vermelho, da caneta que rasura e rabisca qualquer inovação.

Daí surge a solução de incrementar o blog do zine com os resquícios de intelectualidade e ignorância, comprimidos e extendidos no curso superior de Pedagogia. A fonte é a Professora Dinete, ainda do Magistério, prorrogando o jogo pro vestibular e as fases do pronto socorro das palavras na guerrilha da faculdade.

Assim, apresentarei e deixarei para consulta, debate e modificações, trabalhos desenvolvidos para obtenção de notas e credenciais na UDESC e na vida dessa novata escritora.


Pra começar, distrincho as diversas utilizações do planejar na vida de relações e, claro, no cotidiano intelecto-científico. Observemos.



Juliana Ignácio da Silva













Análise Documental para Ensaio















Meiembipe, 2005.



‘’Nós não precisamos saber pra onde vamos,
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos,
Nós só queremos viver.
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é tudo
É sobre tudo a lei.‘’
Infinita Highway – Gessinger
Engenheiros do Hawaii


Análise Documental

Considerações sobre o planejar em sala de aula

Avaliar a própria prática é tão importante quanto planejá-la. Avaliar minha remota experiência profissional demonstra quão esclarecedor o presente trabalho – e outros escritos –, sobre a utilização de planejamentos exclusivos e globais, multifacetados e pontuais, instáveis e infinitos, pode tornar-se, no que menciona como profunda e constante flexão (o exercício físico é semelhante) para se controlar três pilares filosóficos da profissão docente: a transformação social que o contingente populacional geral da escola vislumbra; a opção existencial do plano de vida pessoal; e, a fusão destes dois, tarefa incumbida otimizada na escola.
Na tentativa de percorrer este caminho linear de educação posso estar sendo um pouco retrógrada e contrária aos meus princípios educacionais (ou não-educacionais). Mas, por tática textual, resolvo partir de meus relatos pedagógicos para em seguida conseguir demonstrar o quanto o planejamento bem contextualizado e elaborado oportuniza o intermédio entre os pilares citados acima. Ou seja, a arma que tal ação (planejar) se configura quando idealizada para manutenção ou implantação de objetivos eticamente incorretos perante a (con)vivência humana.

Relatos autobiográficos

Quando do período de estágio obrigatório da formação para magistério em nível médio, no ano de 2001, estive vinculada à instituição do curso, na atividade de auxiliar de sala em uma turma da educação infantil, equivalente as idades de 4 e 5 anos. Diariamente, durante dois meses, participava das atividades lúdicas, físicas, cognitivas, morais, alimentícias e higiênicas das crianças. E eram exatamente as lúdicas que mais preenchiam minhas expectativas, reminiscentes da adoração pela ingenuidade e espontaneidade infantil, bem como de sua relativa modéstia perante a existência humana. Mas não garantiram a minha melhor adaptação aos critérios institucionais vigentes, sendo as experiências de trocas e os corpos que se encontravam aglutinados em tal depósito, desrespeitadas e considerados como mentes e corações desvinculados de essências produzidas pela espécie humana – a cultura e a educação.
Esquecia-se do afeto, da risada, da extravagância, da humildade, da acolhida, da despedida, da unidade e da coletividade, da necessidade e da possibilidade; de cada um e de todos entre si. Previam-se e instituíam-se contratos regulados e ajustados no “pensar sobre o presente e sobre o futuro, para sanar problemas existentes ou evitar que surjam novos problemas” (MENEGOLLA E SANT’ANNA, p. 19), na ânsia por atender clientes limitados e subestimados.
Estando, portanto, longe de aclarar as intencionalidades presentes na ideologia mantenedora, tampouco de conceber o ato do planejamento como estrutura dinâmica, que se concretiza dinamicamente e procura resultar em outra dinamicidade, preconizava-se receitar boas práticas aos educadores, sabendo-as eficientes
[1], do que perceber o indivíduo, que permanecia no tempo e espaço escolar no desejo de criar e perceber humanidades, entendidas pela autora que vos escreve, como única possibilidade de originalidade para o planejar na e da educação escolar.
Lendo Menegolla e Sant’Anna, podemos inferir que o currículo escolar abrange a totalidade social d@s alun@s. Equivale, portanto, ao âmbito escolar e às situações que fogem desta sistemática. Nestas circunstâncias, currículo “é a escola em ação, isto é, a vida do aluno e de todos os que sobre ele possam ter determinadas influências” (p. 51). Esta definição de currículo mereceu observação pela importância, no que condiz ao trajeto em instituições e convívios do indivíduo, antes e diferentemente ao da estrutura monolítica escolar com que se depara como indispensável. Este respeito ao que já se é quando do ingresso em sistemas formais de ensino, bem como o que se quer ser, não é acentuado pela máquina escola, quero crer que só nela, o que é bastante significativo e preocupante.
Não estando mais sujeita à assimilação de determinações prejudiciais, consigo equalizar, como em Menegolla e Sant’Anna, que “o planejamento educativo não significa estabelecer o definitivo, através (...) de finalidades educativas, as quais, por sua natureza, absolutizam os valores que o homem deve aceitar, sem possibilitar-lhe a própria escolha e a criação de novos valores” (p. 25). Contudo, esta crítica só foi processada quando em contato com materiais de registro dos planos e metas da referida instituição, em que me concentrei para perceber possíveis fragilidades, curiosidades e favoráveis saliências que permeavam a elaboração desses documentos.

As leituras atentas

Uma vez na faculdade, tenho os estudos direcionados para procurar saberes que me respondam que professor@ sou, qual pretendo ser e a posteriori, qual serei. Isso também requer um momento de planejamento, já que implica necessidades, agencia recursos, promove objetivos e demanda conhecimento e avaliação da situação original.
Na etapa inicial da disciplina a qual este trabalho se destina, tivemos encontros para discussão de textos sugeridos pela professor@ Cuca (sei – ambição exagerada – que ela não se incomoda ou contrapõe, por ser mencionada desta maneira e nesta ocasião), que abordavam sucessivas tentativas de implantar projetos políticos pedagógicos, planejamentos estratégicos situacionais, planos de cursos, planos de ensinos, planejamentos diários.
Como bastante explicito no decorrer do texto, estou perfazendo apontamentos sobre o que sugere e insinua o planejamento no âmbito escolar. Se, numa perspectiva de educação para reconstrução do homem, escola e ramificações (currículos, disciplinas, conteúdos, métodos, diretrizes, profissionais, alun@s) planejarem para um futuro sentindo que inevitavelmente se tornará presente, desenvolvem-se incorporando e sendo incorporadas por contextos que compõem o vasto cenário social.
Se o planejamento for precedente à ação prática d@s professor@s, el@s saberão utilizar o instrumento para além da esfera burocrática. Resta saber se os discursos rapidamente estudados nos conduzem a:
- a uma perpetuação de controle e manifestação de poderes: utilizam o planejamento para ter registros do que deveria ter sido feito e por quem, em caso de descontentamento, assinalando uma nova configuração aos olhares ‘pan-ópticos’ que a estrutura suporta;
- um perfil ideal de profissional da educação: define e restringe o ensinar aprendendo e o aprender ensinando, com que Paulo Freire nos honrou, aos processos das engrenagens escolares, cunho meramente técnico, de responsabilidade auto-suficiente, descaracterizando o compromisso e figurando a debilidade dos poderes legislativos, jurídicos e executivos nacionais; ou,
- solucionar problemas educacionais: conferindo se as problemáticas levantadas não são reverberações de leis, princípios e fenômenos criados para inculcar a destinação e a imutabilidade da perspectiva humana, ou se, sem esforços danosos, extrapolam a estaticidade humana perante o mundo – e suas leituras.
Destes vestígios de conceito sobre planejamento, reiteramos que nas escolas difundem-se setores definidos, que requerem níveis igualmente específicos para o ato de planejar.

Difusão do planejamento

Retomando como referencial prático a passagem pelo curso de magistério e seu respectivo estágio e, como referencial teórico os textos lidos em sala e bibliografias complementares individuais, podemos começar a explanar acerca do material selecionado e analisado.
Tivemos um curso com planos que visavam à preparação de educador@s para a própria instituição, tanto que as disciplinas eram ministradas por mestres que nela (instituição) detinham outras atribuições e, também, pelo fato de que, o enquadramento dos profissionais às intenções administrativas, era requisito para permanência na escola como educador@.
Já os planos de curso, são elaborados através da conjuntura de matérias que se organiza para a implementação de cursos em diversos níveis. Para Menegolla e Sant’Anna, o período definido para a execução do plano de curso pode ser “exigido pela legislação ou por uma determinação explicita, que obedece certas normas ou princípios orientadores” (p. 59), e por outro viés, desobriga a participação de professor@s.
Nos documentos manuseados tivemos o privilégio de observar os indicadores pedagógicos, semelhantes aos aspectos do plano de curso, visto que:
- se destina a curso específico (educação infantil), em tempo específico (2003);
- é um registro elaborado pelas coordenadoras;
- contém diretrizes para a gestão pedagógica;
- limita métodos de ensino e aprendizagem;
- define o planejamento de aula;
- confere estratégias para recuperação de aprendizagem;
- instaura processo de acompanhamento do planejamento d@s professor@s;
- controla as relações com uma pesquisa de satisfação, característica marcante na mercantilização da escola;
- encaminha o uso dos recursos materiais;
- caracteriza um processo de avaliação;
- atribui espaços, tempos e tarefas a alun@s e mestr@s;
- apresenta cronograma de reuniões da equipe e calendário geral da escola.
Em seguida, nossos estudos direcionam-se à compreensão do que vem a serem planos de ensino ou planos de disciplinas. Nesta tríade que formei no percurso textual, podemos elencar a filosofia educacional, os objetivos do curso e os da clientela como fins geradores do bom plano de disciplina de um@ professor@.
Relacionando as vivências no magistério, enxergamos os interesses implícitos nos discursos da maioria d@s professor@s, que por inocência ou acomodação consideram a perpetuação de determinadas práticas educativas e de com estes exemplos estar formando nova parcela de educadores delineados num perfil desejado.
No livro de Menegolla e Sant’Anna temos uma aproximação a estas definições e a proeminência deste plano de disciplina para o professor, compreendendo um plano voltado para realidade e necessidades d@s alun@s com eixos dec objetividade e realismo; utilidade; funcionabilidade; flexibilidade; simplicidade. Vai precisar o professor exercitar um processo investigativo entre alun@s professor@s, escola e comunidade, em suas manifestações e em seus mistérios. Com informações e interpretações sobre a situação concreta e inicial encontrada, poder-se-á desenvolver objetivos realistas, organizados e apropriados para que a agilização do plano efetive-se. Tal transposição – do plano para a ação – manifestar-se-á coletivamente, considerando que planejar uma disciplina envolve: seleção de conteúdos, dos procedimentos operacionais, dos recursos humanos e materiais e a determinação de processos de avaliação.
O que está proposto no material lido são alguns temas a serem trabalhados por quinzena, normalmente em comum entre os períodos – turma, série –, diversificando apenas as atividades. Não apresenta autoria, provavelmente tendo sido elaborado pela mesma coordenação citada linhas acima, distanciando os a(u)tores da ação pedagógica, do pensamento prévio próprio para o preparo do plano, no intuito de otimizar e fortalecer a prática reflexiva na educação escolar.
Alguns dos itens abordados, assinalando que cada um se expandia, em média por um parágrafo, pra explicação dos motivos e finalidades embutidas na célere transmissão desses temas:
- desenvolvimento dos conceitos sobre a natureza e a sociedade: assuntos familiares, cristãos ou ideol]ógicos;
- desenvolvimento da linguagem: atividades (ou habilidades) específicas para o uso das linguagens;
- desenvolvimento dos conteúdos matemáticos;
- aquisição e conhecimento físico;
- vida prática;
- desenvolvimento das relações sociais;
- desenvolvimento das habilidades psicomotoras;
- artes plásticas e grafismo.
Ao mesmo tempo, não se percebe a devida abrangência destes conteúdos com o enfoque nos contextos primários dos seres, quando muito com a simplificação destes contextos, afirmando-os e abdicando a profunda e séria compreensão da história social e das lutas de classe existentes, que não aparecem em momento algum nos planos educativos da instituição.

Fecham-se as cortinas

Há tanto tempo não escrevia com sangue, ao mesmo tempo em que tenho lido muito do que quero, que considero compatível com meus processos de assimilação e de interesses. Com a solicitação de criação textual em formato de ensaio, me desapego novamente da rigidez científica e da rigorosidade de pesquisadora – que me descubro.
Mas prestes a praticar hemodiálises com outra instituição, a priori por mim vislumbrada como referencia, provavelmente estarei enriquecendo e complementando o trabalho aqui apresentado, meus conhecimentos empíricos e minha formação acadêmica.
Por linhas finais proponho a não aceitação bruta das informações, mas incentivo a tarefa de lapidar muito do que se vive para distinguir em determinados momentos o que você realmente acredita eficaz e o que pode ser utilizado pela eficiência que produz. Esse polimento será constantemente prejudicado, mas são nossos princípios axiológicos que definirão valores e fins para nossas ações, incutidas numa produção histórica da sociedade, percebendo-nos integrantes dela e ela sendo por nós mantida.
Pela ética temos um soslaio para efetivar projetos pessoais para vida individual e coletiva, interligado com projetos existenciais dos envolvidos na dinâmica educacional escolar e dos anseios de suscitados na trama social. E a escola significará alicerce e cumplicidade para a “idéia de que a educação não basta para dar ao homem um destino garantido, devemos entendê-la como um processo que não consegue ao homem tudo do que ele necessita” (Menegolla e Sant’Anna, p. 23).
Tenho, ainda, receio da ferramenta planejamento, aqui defendida como a viabilização dos mais genéricos interesses humanos de libertar-se das opressões naturais e das construídas pelos semelhantes, poder ser adaptada à engrenagem liberal e mercadológica.
O sentido vago e a conotação nociva que estarão sendo (in)filtrados nos atos pedagógicos destinados ao planejamento, análogos ao material emocionalmente visualizado, selecionado, lido, analisado e confrontado para esta produção, com minhas experiências pedagógicas.

Referências

GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. 3.ed. São Paulo: Edições Loyola, 1986.
MENEGOLLA, Maximiliano; SANT’ANA, Ilza Martins. Por que planejar¿ Como planejar¿: currículo-área-aula. Petrópolis: Vozes, 1992.
SILVA, Sônia Aparecida Ignácio. Valores em educação: o problema da compreensão e da operacionalização dos valores na prática educativa. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1995.
[1] Uma diferença suficientemente elaborada entre eficiência e eficácia, é encontrada em GANDIN: Planejamento como prática educativa, onde consegue distinguir a eficiência como a perfeita execução de uma tarefa que se realiza; e eficácia como fazer as coisas que realmente importa fazer, porque desejadas socialmente.

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