19 outubro 2006

Repouso para cientizar...

Como anteriormente havia orientado, lanço mais um dos meus trabalhos acadêmicos, para melhor aproveitá-lo. Seria privilégio de poucos e egoísmo de minha parte deixá-lo absorver-se de mofo na gaveta ou em disquete inutilizável. Por isso recomendo que abusem dele, violentem da mais extravagante maneira, sempre devolvendo a versão modificada ou qualquer crítica, para a educação ser respeitada nesse país incrédulo, promovendo a cientificação da Pedagogia.
Bem feito.

Juliana Ignácio da Silva














Pensando a opressão sexual

Resenha crítica para avaliação na disciplina de Biologia Educacional, da Universidade do Estado de Santa Catarina no curso de Pedagogia, semestre 2003.1. Ministrada pela professora Ingrid Boeing Janeri.













Florianópolis, 2003

FURLANI, Jimena. Mitos e Tabus da Sexualidade Humana – Subsídios ao trabalho em Educação Sexual. Florianópolis: CEPEC Editora, 1998.


Mito é um conjunto de idéias da ilusão aceitos por um grupo de pessoas e que influenciam o comportamento das mesmas. Os sexuais (mitos) são fundamentalmente errados, sem embasamento teórico comprovado e que se espalham pela falta de instrução adequada.
Para você ter um bom desempenho sexual e de conquista seu corpo deve ser uma engrenagem perfeita, contendo fatores como magreza, dentes bonitos, beijo bom, pele bronzeada; tatuagens, cicatrizes e piercings, pés, genitália e um determinado ritual, são considerados em diferentes graus conforme a comunidade (crenças, história, cultura, religião, política, economia, contexto social).
O homem precisa de sexo, assim como necessita alimentação, descanso... No entanto a mulher pode se controlar quanto ao sexo, mantém desinteresse antes do casamento , no casamento somente com o(s) marido(s), já que ela não sente prazer - não ejacula = não goza. O orgasmo feminino é difícil, porque pode ser clitoriano ou vaginal, e ainda há possibilidades de ejacular líquido lubrificante através da contração da região pélvica (vagina até ânus).
O prazer como produto do orgasmo (gozo); este é o único objetivo do envolvimento sexual; que precisa de quantidade para mostrar alguma qualidade. Esquece-se o carinho, a harmonia, o preparo do ambiente, as ‘preliminares’. Assim também há o Kama Sutra que enfatiza a calma, meditações, relaxamento. Daí surgem dúvidas de muitas classes (de diferentes faixas etárias) como o tempo e as sensações da penetração para a mulher; quantas vezes o homem (ou casal) pode fazer sexo e gozar; o que ocorre: antes da transa, com o pênis depois da primeira relação, quando há prazer. Tudo o que foi dito até agora mostra as falhas da educação sexual da sociedade hegemônica ocidental.
O tamanho do pênis é considerado como potência para o homem e preferência para as mulheres. Porém é necessário lembrar que o principal fator é a individualidade (diversidade), vez que a vagina acomoda o pênis quando excitada (sendo os 5 centímetros iniciais mais sensíveis) sem necessidade de uma regra geral.
O sexo vaginal com penetração do pênis, precisa resgatar o prazer, pois não é somente ele que possibilita orgasmo, mas, também, o sexo oral e o anal, que são tabus bastante disseminados e motivos de pilharia entre jovens. Para amenizar essa concepção errônea, lembremos que @s homossexuais têm o prazer pelo clitóris, mas este não é o único motivador feminino para o ato sexual, independente de forma e tamanho.
A esterilidade masculina não é causada pelo simples fato de ejacular todo dia. Porém há religiões e/ou crenças onde se propõe controlar o sêmen ou resgatá-lo com a boca pra reabastecer o cérebro ou ainda cultuam os testículos como objeto de honra em juramentos.
A pílula anticoncepcional apenas evita a ovulação, podendo ter como efeitos colaterais inchaço, náuseas, fadiga, rash cutâneo; mas não características masculinas (causadas por desequilíbrios hormonais, imaturidade orgânica ou distúrbio das supra-renais). Mostra outros métodos anticoncepcionais femininos e masculinos. Para os relacionamentos afetivos são salientados educação e valores.
A camisinha é de fácil acesso (constrangedor) e muito (mal) divulgada, onde se refere a ela com humor. Mas a barreira é no sentido de que ela diminuiria a sensibilidade e o prazer no sexo. A vergonha de carregar (feminina), de colocar (masculina) e de pensar ‘comigo não acontece’ ou ‘pra que se eu não tenho’ (relativo a DST’s), são fatores contrários à preservação da saúde.
O desenvolvimento e grande sensibilidade das mamas nos meninos é causado por doses hormonais desequilibradas durante a puberdade e não em relação ao ato sexual ou à masturbação. Para esses rapazes, saídas noturnas podem influenciar nos atos que antecipam a relação sexual. Porém, é falso dizer que a ingestão de álcool auxilia no sexo, vez que tua como depressor do Sistema Nervoso Central e promove muitos problemas em longo prazo. O que se pode encontrar de afrodisíaco é seu efeito (em pequenas quantidades) relaxante e desinibidor em pessoas tímidas e inseguras. Porém após a euforia pode-se encontrar o oposto (sono, depressão). Outras fontes indicam a possibilidade de problemas na gestação ou com as pessoas que realizam atividades sexuais bêbadas ou empanturradas.

Tabu é formado por idéias preconceituosas, invulneráveis com embasamento social ou religioso, além do envolvimento da moral e, logo, com possível punição aos seus infratores.
Junto com os mitos da virgindade feminina e da diferença de prazer, o tabu contra a iniciação sexual antes do casamento revela a moral sexista desigual dos papéis sexuais (hoje desvirtuados para as relações ‘naturais’ de superioridade/inferioridade; público/lar), já que só serve para as mulheres. O casamento considera a mulher produto de troca e propriedade de quem a compra (com uma aliança).
Advinda do casamento, a monogamia feminina é a mais rigorosa pois o homem tem grande ansiedade por sexo. Adultério e bigamia são práticas ilegais para união matrimonial hegemônica heterossexual. Em algumas culturas há o hábito de compartilhar/trocar a(s) esposa(s) com hóspedes.
Incesto são relações heterossexuais entre parentes com ao menos um ancestral em comum. Há porém costumes de casar gêmeos adultos (já foram íntimos), da iniciação do homem com a mãe ou em decorrência de emergência (Bíblia) para salvar a espécie. Porém os muçulmanos, por exemplo, têm o tabu do leite, onde não se casa pessoas com a mesma ama-de-leite ou o homem e a sua ama-de-leite. A explicação mais comum é o pecado e/ou a má-formação da criança que nascer (biologicamente comprovado). Confere refletir que, se há consentimento e interesse mútuo, aliado aos devidos cuidados, são possíveis os relacionamentos descritos acima.
A sociedade ronda a juventude para o consumo e o sexo. Assim a discriminação após a idade adulta é grande - tabu contra o sexo na 3a idade. Mas em Abcásia as atividades sexuais são tardadas para que durem até os 100 anos.
Para o sexo feminino é maior diante da menopausa e o encerramento das ovulações: ‘infertilidade’ = desinteresse = desnecessário. A própria família diz que o homem fica maduro, charmoso, enquanto a mulher fica velha. Para outras comunidades as mulheres pós-menopausa auxiliam a iniciação de jovens. É possível viver a sexualidade sempre que desejada.
Embora repudiada pelos valores morais, a zoofilia vem com a humanidade desde 3000 a.C, por necessidade, única opção e, mais recentemente, como iniciação, teste de virilidade e ainda como erotização pessoal.
O orgasmo é possível pela estimulação por penetração ou sexo oral da região anal. Embora não seja procriativo, há rituais de coito anal que caracterizam a passagem da infância para a idade adulta. É fonte de prazer para eunucos, heterossexuais e homossexuais, onde choca com o princípio do tabu que restringe a prática para determinadas orientações sexuais.
É mais ignorado que discriminado, demonstra o receio e a dificuldade de lidar com desejo, erotização, diferentes expressões, sexo. Feito com os lábios, a boca, a língua e a cavidade da garganta para estimular e dar prazer sexualmente. Cunilíngua, felação ou 69 é a sua função. Quem é? Sexo oral. Este é também o exemplo que melhor demonstra a escolha individual do que e com quem se fazer relativo à sexualidade.
Sexo grupal é visto como promiscuidade. Mas há promiscuidade maior do que casais heterossexuais tão puros estarem sendo os maiores focos de transmissão do HIV? O que existe é preconceito pelos atos sexuais de casais ou várias pessoas de grupos homogêneos ou diversos. Mas, assim como no sexo anal, o oral só ocorre com o “consentimento mútuo e escolha individual” (p. 124). Mostra sociedades em que é natural ‘orgias’ deste caráter.
O que se tem contra as lojas eróticas? Elas proporcionam muita curiosidade e pré-concepções, mas muito se observa o uso de objetos e vestimentas para estimulação; as cores são relacionadas com conceitos (vermelho = paixão e pecado, preto = sedutor e satânico); o consumo estimula a inovação que atrai o consumo. E há quem reprima, caracterizando o usuário como pessoa depravada e imoral, e essa visão de proibido é mais um estimulante de transgredir, na medida que respeite o outro.

Um mito-tabu contém forte preconceito mas com distorção popular. Exemplo: ato sexual durante o dia (tabu), porque (mito) é comportamento de cães.
Sabe-se que na infância a masturbação é descoberta. Nas outras idades passou de perversão, desvio e atualmente é a exploração prazerosa.Os mitos da masturbação são que traz males, só homens praticam e que não se teria mais tanto interesse por sexo. Há muitas informações distorcidas que contribuem para a formulação do tabu e que tentam diminuir a busca do prazer.
A virgindade vem como forma de selo, virtude e prosperidade para o casamento. O tabu é a relação de dominação e superioridade de um sexo sobre o outro. Outros aspectos são a virgindade masculina (quem controla a primeira vez deles?), a curiosidade de saber reconhecer virgens ou não, a relação masturbação, uso de preservativo interno, tombos, batidas com o rompimento do hímen. Isso diminui a mulher, como incapacitada e impossibilitada de escolher o que fazer com seu corpo.
A prática sexual no período menstrual pode transmitir DST’s, assim como ocorre em qualquer ocasião em que não se tem a devida proteção. Há a dúvida do que pode oacontecer se transar nesta época, vinda de passagens bíblicas e outras histórias. O que se precisa pensar, é se os parceiros (as) da relação desejam fazer sexo durante a menstruação, já que não há nada que prove malefícios. Preservar a saúde da mulher é fundamental, ela precisa se cuidar e ser feliz.
Para esclarecer, a autora comenta sobre orientação sexual: opções possíveis de serem escolhidas – homo, hetero ou bissexual (eu lembro até de uma Panssexualidade, mas tudo bem) – e explica identidade de gênero –mulheres masculinizadas, homens efeminados; relacionado ao interesse de se vestir, falar, conforme o sexo oposto. Sobre homossexualidade ela descreve 5 idéias de mito: causada por distúrbios hormonais (nada foi comprovado até o momento); são infelizes; gays só praticam sexo anal e lésbicas não gostam de penetração vaginal; são imorais, irresponsáveis; relacionamentos sem amor, respeito. Levanta ainda a carga de preconceito sobre homossexuais: violência por parte de homofóbicos, inclusive pequenas brincadeiras (onde se pode e quer dizer verdades), quebra de regras (não reprodução da espécie) e idéias sociais (masculino/homem e feminino/mulher com determinadas ações preestabelecidas).
Quando se tem atração e/ou relação com ambos os sexos é bissexual, ao contrário do que se conceitua miticamente por bissexualidade: transar com várias pessoas ao mesmo tempo ou se mantém mais de um relacionamento (já é âmbito do caráter e dos valores). Freud abordou o ser humano bissexual naturalmente.

O trabalho de Educação Sexual, perante os Mitos e Tabus, deve ser conforme o interesse e dúvidas (com pré-informações) do grupo e feito recuperando a formulação histórica e ideológica, para superá-los. Consciência intelectual (criadora de códigos sociais preconceituosos) vrs. Consciência humana básica (senso comum, com dificuldade de aceitar o novo). Os próximos mitos e tabus serão implantes de seios, inseminação artificial, erotização na internet... Finaliza lembrando a repressão sexual que deve ser traduzida e abolida, trocada por dignidade, coragem, direitos humanos, cidadania. Seja feliz sexualmente!


Amarrando Idéias

Alguns pontos que percebi nas leituras que fiz do livro e que a autora enfatiza bastante são:
Sexualidade como eterna, flexível, maleável, reprimida mas não inexistente, disfarçada.
Esclarecimento detalhado do grupo de pessoas e relações abordadas nos diversos capítulos; ex.: relação heterossexual com penetração vaginal.
A extrema importância que se dá à reprodução, procriação, manutenção da espécie; único objetivo desejado pelos opressores sexuais para a sexualidade humana.
Incesto, sexo com animais, homossexualidade e prostituição não são puníveis por si só; sendo a sexualidade única ligação entre elas. Isso tudo porque não constituem a forma hegemônica e são discriminadas socialmente como tabu.
Mostra a todo instante que o que é banido em nossa sociedade (ocidental hegemônica heterossexual) é aceito ou considerado normal em outras culturas.
Reforça sempre a necessidade de se trabalhar todos os ângulos do ser humano e seus relacionamentos afetivos nas aulas, principalmente nas de Educação Sexual.

Adorei o livro, já fiz propaganda na turma, traz muitas curiosidades e uma diversidade de abordagens que auxiliam nossa construção do que viria a ser sexualidade humana e como podemos trabalhá-la afim de não perpetuar gerações de infelizes na vida afetiva.

E era isso.....

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